O que é Inteligência Artificial?
Não há muito tempo, ouvir falar de Inteligência Artificial (IA) era imaginar carros voadores ou robôs do futuro. Atualmente, as coisas mudaram um pouco.
Quando pensamos em Inteligência Artificial, lembramo-nos imediatamente do ChatGPT, de imagens criadas artificialmente e da questão do momento: “será que o nosso futuro está a ser ameaçado?”
Antes de tirar quaisquer conclusões, é importante olhar para trás e tentar perceber como começou e o que realmente é a Inteligência Artificial.
É incrível pensar que o conceito de IA já existe, formalmente, desde a década de 1950. Nesta altura, foi definida de forma muito simples: a capacidade de uma máquina realizar uma tarefa que anteriormente exigia inteligência humana.
Mais de 70 anos depois, com toda a investigação e evolução do tema, o paradigma alterou-se. A IA é hoje uma ideia muito mais complexa, em que realmente é importante definir o termo de “inteligência”, especialmente quando estamos a atribuí-la a uma máquina.
Vamos então olhar para nós, seres humanos, para tentar perceber este conceito: o que nos distingue enquanto seres vivos é essencialmente o nosso nível de inteligência, a capacidade de nos adaptarmos, resolver problemas, planear, improvisar em novas situações e aprender coisas novas.
Agora olhemos para os atuais sistemas de IA. Será que estão assim tão longe desta definição de inteligência humana?
O que caracteriza a Inteligência Artificial é a aptidão que uma máquina tem para reproduzir competências semelhantes às humanas, como é o caso do raciocínio, da aprendizagem, do planeamento e da criatividade, entre tantas outras capacidades e disciplinas.
A Inteligência Artificial permite que os sistemas técnicos percebam o ambiente em redor, lidem com o que percebem e resolvam problemas, agindo no sentido de alcançar um objetivo específico. A máquina recebe dados, processa-os e responde. Estes dados, por sua vez, podem ser recolhidos através dos seus próprios sensores, como por exemplo com o uso de uma câmara.
Os sistemas de IA são capazes de adaptar o seu comportamento, até certo ponto, através de uma análise dos efeitos das ações anteriores e de um trabalho autónomo.
Posto isto, conseguimos perceber que a IA tem certas características da inteligência humana, mas não podemos esquecer que assim o é, pois foi o ser humano quem a criou para esse propósito.
A Inteligência Artificial é considerada primordial para a transformação digital da sociedade e tornou-se uma prioridade da UE. Porém, os desafios ainda são alguns e há um longo caminho a percorrer.
Sociedade e Inteligência Artificial
Segundo o Eurobarómetro 2017, 61% dos europeus têm uma opinião positiva sobre a IA. Ainda assim, é necessário procurar e garantir que a tecnologia é e se mantém aceitável para a sociedade. Para tal, o caminho a seguir é promover uma maior confiança nos produtos e serviços de IA, criando sistemas mais fiáveis.
O diálogo com os respetivos stakeholders poderia desempenhar um papel fundamental na definição do que a utilização da IA pode representar, bem como da sua importância para a sociedade. Isto é o ponto de partida para uma maior aceitação da IA na sociedade.
As sociedades podem beneficiar da utilização de IA. Desde melhorias na saúde até à tomada de decisões, passando pela potencialização dos processos produtivos em empresas, esta é uma ferramenta na qual devemos apostar.
Podemos até constatar que mesmo as aplicações que, aparentemente, não têm sentido nem importância, podem vir a gerar capital, conhecimentos especializados e dados que poderão conduzir a desenvolvimentos substanciais e úteis.
O perfeito exemplo é a área da saúde que, graças ao desenvolvimento de IA para jogos virtuais, pôde beneficiar de avanços e novas formas de detetar doenças como o cancro. As ferramentas de reconhecimento de imagem, aperfeiçoadas em gatos, foram utilizadas para estas descobertas extraordinárias.
Presença da Inteligência Artificial no dia a dia
Além das utilizações benéficas da IA para a sociedade, esta é uma tecnologia bastante presente no nosso quotidiano.
A verdade é que quando se fala na utilização de IA, para muita gente parece que estamos a lidar com um processo ultra tecnológico e de uma complexidade elevada, mas a verdade é que nos deparamos com IA todos os dias.
Esta é uma tecnologia que está inserida numa série de atividades diárias de uma forma tão natural que muitas vezes nem nos apercebemos que a estamos a utilizar.
Por exemplo, cada vez que abrimos o Instagram ou o Facebook e recebemos todo o tipo de recomendações, desde amizades a conteúdo, estamos a ser influenciados por um algoritmo. Isto também acontece quando estamos a fazer uma pesquisa no Google e, assim que começamos a escrever, a ferramenta tenta adivinhar aquilo que queremos e dá sugestões de pesquisa. É isto a inteligência artificial a funcionar!
Para além das mencionadas, estas são algumas das aplicações no nosso dia a dia que, possivelmente, não percebermos que são alimentadas por Inteligência Artificial:
– Compras e publicidade online
A IA é amplamente utilizada para fornecer recomendações personalizadas com base, por exemplo, nas suas pesquisas e compras anteriores ou outro comportamento online. Esta ferramenta é extremamente importante na área comercial, nomeadamente para a otimização de produtos, planeamento de inventários, logística, entre outros.
– Pesquisa na web
Os motores de busca aprendem com a vasta entrada de dados, obtidos através dos seus usuários, para fornecer resultados de pesquisa relevantes.
– Assistentes pessoais digitais
Os smartphones usam IA para fornecer produtos relevantes e personalizados. Desta forma, os assistentes virtuais que respondem a perguntas, fornecem recomendações e ajudam a organizar rotinas diárias, tornaram-se omnipresentes.
– Traduções automáticas
O software de tradução linguística, baseado em texto escrito ou falado, confia na inteligência artificial para fornecer e melhorar traduções. O mesmo se aplica a funções como a legendagem automática.
E claro, não podia ficar de fora o famoso ChatGPT. Estamos a falar de uma ferramenta que quase dispensa apresentações. É o “sabe tudo” dos dias que correm. Este é um sistema de IA alimentado por uma enorme base de dados que consegue responder às mais variadas perguntas e resolver os mais complexos problemas, tudo de uma forma tão natural que parece que estamos a falar com um ser humano.
Mas num mar de inteligência artificial, quando olhamos para o ChatGPT estamos apenas a ver apenas uma parte da imagem. Temos uma série de ferramentas disponíveis, especializadas nas mais diversas áreas e capazes de realizar trabalhos a um nível profissional.
No caso do design e fotografia, as ferramentas como Midjourney e Dall-E permitem a criação das mais diversas imagens e montagens altamente realistas, apenas com uma frase.
Há ainda as ferramentas que, de forma totalmente autónoma, conseguem fazer a edição de vídeo ou até mesmo criá-lo de origem, como é o caso da Pictory e steve.ai.
Chegamos ainda às ferramentas que são capazes de fazer o resumo de reuniões, criar as apresentações ou até mesmo organizar uma agenda da forma mais eficiente possível.
Estas são apenas algumas das utilizações da Inteligência Artificial em contexto pessoal ou de trabalho, sendo possível identificar o enorme potencial desta tecnologia. Tudo à distância de um clique e à espera para ser explorada por cada um de nós.
As oportunidades da Inteligência Artificial
No caso das empresas, a IA pode permitir o desenvolvimento de uma nova geração de produtos e serviços, incluindo nos setores onde as empresas europeias já detêm posições fortes: economia verde e circular, maquinaria, agricultura, saúde, moda, turismo, entre outros. Algumas das suas utilizações passam por modos de venda mais harmoniosos e otimizados, melhoria da manutenção de máquinas, aumento dos resultados da produção e da qualidade, melhoria do atendimento ao cliente e economia de energia.
Quando usada em serviços públicos, a IA pode reduzir os custos e oferecer novas possibilidades para os transportes públicos, a educação e gestão de energia e resíduos, assim como melhorar a sustentabilidade dos produtos.
Neste sentido, a Inteligência Artificial poderia contribuir para a concretização dos objetivos do Pacto Ecológico Europeu. Estima-se que esta tecnologia poderia ajudar a reduzir cerca de 1,5% a 4% das emissões de gases com efeito de estufa até 2023, segundo um estudo do Parlamento Europeu.
No entanto, para além das vantagens, esta tecnologia e os usos comerciais à mesma aplicados, apresentam desafios éticos, jurídicos e socioeconómicos.
Um longo caminho pela frente
Muitas utilizações de IA poderiam oferecer um profundo valor social. No entanto, as aplicações mais conhecidas atualmente oferecem ganhos relativamente pequenos em termos de eficiência ou conveniência, muitas vezes com custos e benefícios distribuídos de forma desigual.
Também os impactos no emprego e as intrusões na privacidade são cada vez mais tangíveis para os cidadãos, enquanto os benefícios prometidos para a sua saúde, riqueza e ambiente permanecem um tanto intangíveis e distantes da perceção da sociedade.
Impacto da Inteligência Artificial no emprego
Prevê-se que o uso de IA no local de trabalho resulte na eliminação de um grande número de empregos. No entanto, também se pressupõe que crie postos de trabalho e melhore os empregos, o ensino e a formação profissional, para além de que terá um papel fundamental a desempenhar na prevenção do desemprego de longa duração e na garantia de mão-de-obra qualificada.
Esta tecnologia pode tornar o ser humano mais produtivo, libertando profissionais de determinadas tarefas mecânicas e repetitivas para que possam usar o máximo da sua capacidade humana para criar e inovar noutros setores.
Uma mudança no mercado de trabalho foi iniciada e, certamente, vai alterar algumas vagas de emprego no futuro. Cerca de 14% dos empregos nos países da OCDE são significantemente automatizáveis e outros 32% podem vir a enfrentar mudanças substanciais, segundo um estudo do Parlamento Europeu.
Contudo, estas mudanças irão criar também postos de trabalho. Segundo um relatório da Gartner, vão ser criados cerca de 21 milhões de postos de trabalho que até hoje ainda não existiam. Isto porque a evolução do mundo digital, muito devido à IA, está em completa transformação, exigindo sempre uma mudança de paradigma no mercado profissional.
Autonomia humana
Existe um amplo consenso de que o ser humano deve deter o controle sobre a Inteligência Artificial. Este é um tema ao qual deve ser prestada atenção, dada a propensão humana para aceitar os conselhos das máquinas automatizadas. Desta forma, a vigilância sobre este tema torna-se imprescindível.
O grande desafio poderá ser precisamente com a resistência à excessiva dependência de máquinas inteligentes, que, por vezes, não são tão inteligentes quanto o que expectamos.
Desta forma, podem e devem ser tomadas medidas para contrariar esta mesma vulnerabilidade, tais como impor a limitação do papel de “subordinado” (a Inteligência Artificial) nos sistemas de tomada de decisões, bem como garantir que os assistentes pessoais e os chatbots não parecem mais inteligente ou emocionalmente ligados que aquilo que são.
O que nos espera no futuro?
Quando falamos de Inteligência Artificial, o futuro pode parecer assustador, pois apesar de ser uma tecnologia já bastante presente, ainda há muito por desenvolver e melhorar. É importante perceber o real poder da mesma, pois como diz Elon Musk, estamos perante algo com uma capacidade de evolução inimaginável. Assim, o crescimento terá de ser controlado, até porque estamos perante uma novidade.
De qualquer forma, neste momento não há qualquer razão ou indicativo que nos remeta para uma situação de perigo e, desde já, podemos ficar descansados, não estamos em risco de sermos dominados por robôs do futuro! Neste sentido, podemos reformular e dizer que o futuro é desconhecido no que toca à IA, deixando de lado o “assustador”.
Vivemos numa fase de mudança e de transformação da era digital. O futuro da IA aponta e segue a direção de uma tecnologia cada vez mais transparente, eticamente construída e que faz parte de tarefas do dia a dia, no trabalho ou na nossa vida pessoal, aumentando nossas capacidades cognitivas.A realidade é que estamos perante um dos maiores avanços tecnológicos da humanidade.
Por essa razão, devemos encarar o futuro com mente aberta, cautela e até um pouco de entusiasmo.
Colaboração de: João Félix, Diogo Azevedo e Leonor Porto